Qual o limite entre um treino ideal e um treino excessivo e prejudicial à saúde?
No início de treinos especialmente aqueles que são feitos sem acompanhamento de educadores físicos costuma-se, sem muitas orientações de forma não gradual, ir aumentando os pesos, as rotinas de exercícios e até mesmo os dias de ida à academia.
O objetivo, numa lógica de acumulação, é que com o aumento das atividades os resultados no corpo surgirão mais rápidos e melhores. Em certa medida isso é verdade. Resultados virão rápido, entretanto, neste caso, os resultados podem ser desde um estiramento muscular até uma lesão séria nas articulações. Isso acontece, entre outros motivos específicos, porque o corpo percebe que o excesso de treino e exercícios ultrapassam sua capacidade de regeneração, de recomposição de estamina.
Só para se ter uma ideia do quão prejudicial podem ser exercícios feitos em demasia e como o corpo rebela-se por isso, é possível ver: a produção de hormônios é alterada de maneira inusual; há aumento da frequência cardíaca mesmo durante o período de descanso; aparecimentos de quadros de comportamento nos quais a pessoa torna-se facilmente irritável; quadros de insônia quase constante; e até mesmo enfraquecimento do sistema imunológico.
Todavia, mais do que efeitos no corpo, o excesso de exercícios físicos – e aqui entram pessoas que já estão em forma, mas, por algum motivo, ainda treinam em um ritmo não indicado na tentativa de aumentar a hipertrofia - pode indicar problemas indicado à mente e à psique. Exemplos destes problemas podem ser TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) ou até mesmo TDC (Transtorno Dismórfico Corporal), quando a pessoa se olha no espelho e não consegue visualizar-se como realmente sua aparência está, isto é, ela continua a exercitar-se por ainda não ter conseguido chegar ao corpo perfeito.
Sabendo de todos estes riscos e prejuízos, resta a pergunta: então qual o limite entre um treino ideal e um treino excessivo e prejudicial à saúde em quantidade e intensidade? As respostas a isso podem ser divididas, pelo menos, em dois momentos. O primeiro deles, o que trata do treino ideal, varia de pessoa para pessoa e, logicamente, dos objetivos e das metas distintas que cada um tem ao dedicar-se à uma vida menos ociosa e com qualidade.
Isso quer dizer que ideais são as rotinas de exercício nas quais é possível ter um mínimo de acompanhamento de educadores físicos, de nutricionistas, de fisioterapeutas e de médicos que possam delinear seu perfil e diagnosticar possíveis problemas que ora inviabilizam determinados tipos de exercícios, movimentos ou aparelhos da academia, e ora veem a potencialidade de aumento da carga de peso e da intensidade com quem são feitas as atividades para aumento da massa muscular, por exemplo.
Já os sinais que o corpo envia (e geralmente são codificados como dores) e nos alerta para o risco de estarmos realizando exercícios em excesso são muitos. Ninguém deve fazer exercício durante mais de 60 ou 90 minutos numa rotina de quatro ou cinco dias consecutivos da semana. Ou seja, é preciso saber quando parar e dar tempo ao corpo, tempo de respiro, de alívio e de produção organizada de hormônios.
Os sinais que anunciam que os exercícios não estão sendo feitos de maneira correta, de forma resumida, podem ser classificados a partir de três grandes sintomas como mostram as informações trazidas no site oficial da Sociedade Brasileira de Atividade Física e Saúde (SBAFS) e pelo relatório Recomendações Globais de Atividade Física para a Saúde, da Organização Mundial da Saúde (OMS):
1. Demorar muito para recuperar-se depois de dias de exercícios:
Há aqui uma clara indicação do que está acontecendo com músculos, articulações e estrutura óssea corporal: o corpo necessita de tempo para recompor sua estamina. Ter dificuldades de respirar, não ter muita energia, sentir dores a todo instante e ter uma sede quase insaciável já são indícios de que o corpo não só está desidratado como, pior, pode vir a sofrer lesões futuras.
2. Ter a pulsação muito alta pela manhã em momentos nos quais quase não se faz esforço:
Para saber se há uma alteração muito grande do nível de pulsação é preciso mensurá-la em repouso e depois voltar a medi-la todos os dias pela manhã em descanso. Se sem nenhum motivo aparente elas se mostrarem muito altas, estas pulsações começam a indicar que o corpo está estressado, que o físico não conseguiu se recuperar corretamente e que é necessário diminuir a quantidade e a intensidade das atividades físicas.
Sentir dor constantemente e de forma extrema e incômoda:
Sentir dor após exercícios é algo corriqueiro e, em certo ponto, normal na vida de quem realiza exercícios e frequenta academias. O que diferencia esta normalidade para algo que é prejudicial à saúde é quando estas dores passam a ser constantes e iniciam um processo de quebra da rotina, ou seja, outras atividades são interrompidas ou atrapalhadas no cotidiano pela pessoa que não consegue se concentrar ou mesmo passar o dia sem as dores.
Estas dores sinalizam, novamente, que todo o tecido muscular não está preparado ainda para a continuidade dos exercícios e, o que e mais preocupante, não está dando conta de recuperar-se sozinho dentro de uma rotina metabólica anormal. As lesões nesta fase são tão presentes que podem, inclusive, inviabilizar a vida da pessoa por dias, semanas, meses ou, o que seria o pior cenário, criar traumatismo e ferimentos crônicos nas quais a dor é um companheiro presente para toda a vida.